Ao achar uma lâmpada dourada no chão semi-soterrada fiz o de praxe: esfreguei-a. E então depois de luzes, explosões e sons de trombeta, eis que surge uma figura mística, mágica - um figura genial. E me disse:
Eu sou o gênio,
prazer: sou Eugênio.
Não fiquei muito empolgado - talvez uma atitude à parte do que o gênio costumava ver. Então ele falou de novo:
Vim te conceber três pedidos:
não é um, nem dois,
apenas me diga quem sois
para que eu não fique tão perdido.
Eu não disse nada... Mas ele logo indagou novamente:
Vejo que és um mortal,
homem, normal...
usual.
Tão silencioso, és do mal?
Calado assim, não tens moral.
Balancei a cabeça negativamente. E continuou:
Mas não vim para te julgar.
Mesmo sabendo que estas a pecar
não é a mim que tens que rezar,
implorar,
se sacrificar,
se martirizar.
Balancei a cabeça afirmativamente. E ele prosseguiu:
Então me digas, queres riqueza?
Que tal ser da realeza?
Um pouco mais de beleza?
Quer que eu te tire alguma fraqueza?
Ou só queres que eu te sirva uma boa mesa?
Fiz uma cara de que nenhuma dessas sugestões teria sido do meu agrado. Então ele disse:
Me fale, homem, largue desse pudor.
Tu podes não querer nada, mas com certeza queres amor.
Daqueles sem dor.
Só flor.
Fiz uma expressão de talvez. Até concordei. E ele falou:
Vamos meu caro, fale comigo.
Posso não ser seu amigo,
mas sou o ego do homem
que não move o olho do seu próprio umbigo.
Dessa vez não fiz nenhum sinal de resposta. Logo ele amaciou o tom de voz e disse:
Por favor, deixas eu te conceber pelo menos um desejo.
Aproveita o ensejo.
Não queres nem um queijo?
Um beijo? ='(
Suspirei e eu lhe disse:
Olha seu gênio, o que quero cabe num verso.
Não é beleza nem riqueza.
É apenas a busca de uma certeza.
Dá-me uma nave para eu cruzar o universo.
E ele, antes de indagar o por quê, eu tomei a frente:
E a propósito, olhas que no fim é tu quem me pede.
Não é que eu não goste de dinheiro e amor.
É que eu prefiro assim, uma pitada de ironia de leve.
Pois no fim, claro, o humano sempre desejou.
Já estou no terceiro verso, não sou mentiroso.
Sou inconstante sim, e muitas vezes não planejo.
Mas vejas o quanto eu te disse de valioso,
até te clamar apenas um desejo.
Se eu tivesse feito logo o pedido
talvez no futuro eu não o quisesse mais.
Eu estaria sem ter traçado um caminho e arrependido
sem poder colher a paz.
O gênio agora estava sério, mas aparentemente concordara com tudo que eu havia lhe dito. E então ele disse:
Para que a nave?
Posso saber?
Queres voar que nem ave?
Ou queres o céu conhecer?
Então eu sorri e lhe disse:
Vou atrás do meu caminho
Vou voar, ser livre
distante de qualquer ninho.
Que me venham amores,
dores,
Não quero limites
Quero que tu, gênio, me imites.
Quero realizar pedido,
por vezes ser atendido -
Assim, sem mágica.
De magia só quero do amor,
Por favor.
Então me dê o espaço
que irei me desatar de qualquer laço.
Eu sou quem gira meu compasso.
Sou eu que faço.
Volte para lâmpada Eugênio, um abraço.
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