Não dê uma segunda chance para vilões.
Malditos seres endiabrados.
Ricos de azar e pobres de sorte.
Contrastam-se na inocência do mocinho.
Que são agraciados com o ato heroico do improvável.
Vilões enjaulados.
Tanto planejamento.
Ás vezes por anos, décadas a fio.
Por vidas inteiras articulando de forma meticulosa.
Uma dedicação de monge amaldiçoado.
Às vezes regrados de sofrimento. Pecador.
Ausências. De sentimentos?
Já vi vilão sem mão.
Sem perna.
Sem olho.
Sem pais.
Do outro lado o mocinho.
Maculado de dó.
Que quer o que?
Uma mulher?
Um luxo?
Moço, mero mocinho.
Com metas tão pequenas.
Abençoado com a simples sorte.
Ora vilão. Tu que era merecido de dó -
triste fim tu terás.
Teus planos foram por água abaixo.
Enquanto o moço agora goza.
Através do simples prazer de ter o simples.
Fortuito ato adquirido.
Por vezes não merecido.
Contente por ser o lado bom da história.
Os bons vilões morrem.
Perdem-se no abismo do sempre.
Enquanto o mocinho tornar-se-á feliz.
Pra sempre.
Que sonho.
Aqui caberia o final de qualquer história.
Um resumo do destino –
esse grande quebra-cabeça regrado pelo pecado da sorte.
Ignorando o ser condenado desde menino.
O maior oponente do vilão não é o mocinho
Nem seus meros coadjuvantes.
A culpa é do escritor.
Que sabiamente não o dá uma segunda chance para o derrotado.
Nunca dê uma segunda chance para um vilão.
Os planos que outrora fracassaram, não vão mais falhar.
Regressará reerguido.
E não mais lamentará a falta de sorte.
Muito menos culpará o mocinho.
Que de tão pequenino
sumirá de seus planos.
Dê para o vilão um novo volume.
Um capítulo a mais,
ou apenas uma página no fim da prosa.
Uma frase em aberto:
deixas uma reticência...
E verás –
sonhos podem até se acabar,
mas planos só se adiam.
Desperte o vilão caído em você.
E mostre no retorno da morte,
Que nem a sorte