domingo, 17 de junho de 2012

Boneca



Estou a pensar: quem é você?


Teu rosto está tão lindo - teus olhos amendoados; tuas maçãs do rosto: são maçãs mesmo. Teu rosto está pintado. Mas não posso tocá-lo para não borrar nada.


Tua boca brilha em muitos tons - ela é viva em cor de sangue. Lábios vermelhos. Mas não posso beijá-la para não retirar o batom.


Teus cabelos lindos e negros - são infinitos. Lisos. Não posso senti-los para não desmanchar o penteado.


Tuas mãos tão delicadas - são quadros pintados e moldurados sob tuas unhas. Belas. Não posso ser descuidado - as unhas foram cuidadosamente pintadas ainda agora.


O tecido que usas dar-te forma - te desenha em incontáveis dimensões. Um pecado. Não posso abraçá-la verdadeiramente, pois pode tornar visível alguma parte quente.


Não posso, não posso e não posso. Fico imóvel.


É ai que encostas em mim e sinto-te gelada.


Tu estás tão fria. Teu suor é gelado. Fica preocupada com o que os outros vão pensar ao te olhar e acaba não se sentindo. 


Perdestes a identidade. Tua singularidade. 


Agora digo: o que é você?


És uma boneca. 


Apenas.


Mais uma.


Boneca.






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