De um canil com centenas de cachorros dois deles se destacavam: Linda e Alfredo. Eram de raças diferentes, mas os coraçõezinhos pulsavam na mesma batida. Os dois dividiam uma pequena celinha somente a noite já perto da hora de dormir. Lá eles trocavam fungadas nas orelhas e lambidas no focinho. Alfredo sempre estava satisfeito: ele se sentia em um lofting. Linda, mais exigente, se sentia em um kitnet. Alfredo sofria de catarata já em um estágio avançado o que não permitia ele a ficar no parquinho durante o dia. Já Linda sempre que podia estava lá: mordendo pneus, cavando na terra suja, e evacuando embaixo de um escorreguinho.
Certo dia a Linda foi adotada. Algumas semanas depois o dono do canil reparou que Alfredo começou a sair da sua cela e a frequentar mais o parquinho. Meio tímido e desajeitado por quase nunca estar lá, muitas vezes ele esbarrava nos toquinhos de madeira ou ficava preso nos pneus. O dono também foi verificar como estava a criação de Linda e se impressionou com tremenda felicidade a dela: estava mais revigorada, com pêlos brilhantes, bastante carinhosa e até tinha ganhado um conjunto de laços para suas orelhinhas. O dono concluiu que o melhor mesmo tinha sido feito: grande parte dessas mudanças foi devida a separação dos dois cachorrinhos. Mas ora, como ele vai saber disso? Não tem como saber, ele não é um cachorro.
Linda na verdade foi adotada e saiu do canil: qualquer cachorro ficaria feliz com isso. A situação que foi oferecida a Linda foi favorável a sua felicidade. Já o Alfredo poderia ter engordado e só querer dormir atrás da secadora, porém ele preferiu tentar realizar seu sonho por mais difícil que fossem os obstáculos que ele enfrentaria dali pra frente. Muitos humanos diriam: o sonho de Alfredo é ter a Linda de volta no canil. Mas só quem é cachorro sabe: ele quer ser é adotado.
Alfredo (já gordinho) tirando a paciência de Linda. Não tentem entendê-los: eles são cachorros.
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