segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Adeus

O fardo pesou: 
a brincadeira acabou 
e a criança chorou. 


A pele sentiu, 
o mágico sumiu, 
a ferida abriu.


A cortina fechou
O espetáculo terminou.




Não foi nem 1 terço do que planejei.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Entrevista

O que encanta você?

- A risada de um bebê.
- Ter ou não ter?

Qual o seu amor?

- Minha primeira flor.
- Minha última dor.

O que achas da vida?

- Uma finita bebida.
- Minha única saída.

O que te entristece?

- Quando um balão desce.
- Uma falsa quermesse.

O que queres falar?

- Não dá pra reparar.
- Pai, não vá!

O que pretendes fazer?

- Escrever.
No time que perde começar a mexer.

O que te alucina?

- Uma menina.
- A que termina com lina.

Arrependimento?

- Muitos, meu melhor momento.
- Ser um jumento.

Como se julga?

- Cheio de culpa
- Me desculpa?

O que sentes?

- Saudade ardente.
- A quem engano, serei sempre o que mente.


Eu não me engano.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Vigor

Uma pessoa passou por mim e disse: “gosto de ver assim, geração saúde”. É, eu ainda sei que a maioria das pessoas que frequentam uma academia ou até mesmo praticam algum esporte busca uma melhor qualidade de vida, um padrão estético melhorado, ou simplesmente está com medo de morrer. Essa associação de esporte e saúde é falha quando o primeiro é levado ou executado ao extremo: muitas vezes em condições que o corpo ultrapassa seus limites incontáveis vezes e em inimagináveis variáveis. E isso está mais para doença do que para saúde. Se perguntarem para mim: “mas e quando você chegar aos setenta anos?”. Quando você tiver setenta anos eu já estarei morto há no mínimo dez anos. Mas esses excessos são o sentido da vida para muitos esportistas – inclusive para mim.

Não é fama, não é glória, é apenas a busca daquele prazer que é adquirido quando você consegue superar metas. E são metas bem pesadas. Explicar é bem difícil. Só sabe quem realmente sente na pele. Buscar um sentido para isso é complicado. Razão para superar limites no esporte: é o mesmo que saltar de pára-quedas - ou seja, nenhuma. Imagine só: ali na sua frente está um peso que nem você nem mais de 98% da população mundial conseguiriam erguê-lo. O desafio foi lançado. Seu corpo ficará em alerta e preparado com o sistema de luta ou fuga. Pobrezinho, dessa vez ele vai lutar. Quando você toca no peso percebe que ele não se move e parece ser estático, preso ao chão. Respira profundamente algumas vezes – pode ser sua última respiração. E então com um movimento firme você consegue içá-lo e nota que é humanamente impossível realizar o exercício. Agora está bom. Durante a realização dos movimentos você vê que a gravidade é uma menina de seis anos indo pela primeira vez para escola sem seus pais. O peso parece que é puxado por dezenas de demônios raivosos querendo que você desça ao abismo naquela hora. Todos os seus músculos se travam como ferrolhos de uma jaula com animais raivosos. Nada é mais forte. E então naquele último movimento, com lágrimas de sangue nos olhos você consegue sentir: do seu lado esquerdo os entes queridos que já se foram, e do lado direito o suspiro do sono da morte - o coma. Logo após você desaba. Você venceu o desafio.

Talvez no mesmo dia, ou senão em breve, você seja desafiado de novo. São desafios consecutivos esperando por você. Muitos podem achar loucura, obsessão, doença. Ou até mesmo determinação, disciplina. Não tem como saber ao certo. Só uma coisa se sabe: é força pra c******!

Força; Strenght; Vigueur; Kraft; Forza; Vim; Fuerza.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Paraíso

E só foi o tempo que eu inspirei. Já imaginava um lindo campo de grama verde a meio-chão. Era limpa e clara como se fosse recém-regada, brilhava de acordo com a brisa que arrastava cada fiapo em uma dança desordenada. Sentia-se de perto o cheiro de mato úmido: um aroma de natureza que era de extremo conforto. Olhando mais pra cima se via uma enorme queda d’água – nascendo no topo da montanha mais alta e que descia suavemente até formar ondas que desenhavam as mais variadas formas de sentimento. E dando base como rocha sólida aquele montanhoso pico era repleto de muitas curvas: eram tantas que sem um mapa qualquer um se perderia. E bastava fechar os olhos para sentir a presença, através do cheiro, de mais de miliquinhentas rosas desabrochadas - era o perfume da deusa do perfume.

O sol lá em cima era bem visível. Incandescia volúpia em uma tremenda vontade de agitação. Dava pra sentir o calor na pele, mesmo estando muito longe. Quando ele ia se deitar, a lua aparecia. Resfriava-me as narinas ao mesmo tempo em que marejava meus olhos. Eu entrava em contato com a minha alma. Mas o que eu achava de mais belo era aquelas duas estrelas brilhantes. A beleza delas nutria meu coração. Se eu as encarasse elas me arrancavam a verdade. Eu sou só delas. E então eu expiro, e ela passa.

Pisco uma vez: pele, cabelos, corpo, perfume, temperamento, olhos. Já foi.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cachorros

De um canil com centenas de cachorros dois deles se destacavam: Linda e Alfredo. Eram de raças diferentes, mas os coraçõezinhos pulsavam na mesma batida. Os dois dividiam uma pequena celinha somente a noite já perto da hora de dormir. Lá eles trocavam fungadas nas orelhas e lambidas no focinho. Alfredo sempre estava satisfeito: ele se sentia em um lofting. Linda, mais exigente, se sentia em um kitnet. Alfredo sofria de catarata já em um estágio avançado o que não permitia ele a ficar no parquinho durante o dia. Já Linda sempre que podia estava lá: mordendo pneus, cavando na terra suja, e evacuando embaixo de um escorreguinho.

                Certo dia a Linda foi adotada. Algumas semanas depois o dono do canil reparou que Alfredo começou a sair da sua cela e a frequentar mais o parquinho. Meio tímido e desajeitado por quase nunca estar lá, muitas vezes ele esbarrava nos toquinhos de madeira ou ficava preso nos pneus. O dono também foi verificar como estava a criação de Linda e se impressionou com tremenda felicidade a dela: estava mais revigorada, com pêlos brilhantes, bastante carinhosa e até tinha ganhado um conjunto de laços para suas orelhinhas. O dono concluiu que o melhor mesmo tinha sido feito: grande parte dessas mudanças foi devida a separação dos dois cachorrinhos. Mas ora, como ele vai saber disso? Não tem como saber, ele não é um cachorro.

Linda na verdade foi adotada e saiu do canil: qualquer cachorro ficaria feliz com isso. A situação que foi oferecida a Linda foi favorável a sua felicidade. Já o Alfredo poderia ter engordado e só querer dormir atrás da secadora, porém ele preferiu tentar realizar seu sonho por mais difícil que fossem os obstáculos que ele enfrentaria dali pra frente. Muitos humanos diriam: o sonho de Alfredo é ter a Linda de volta no canil. Mas só quem é cachorro sabe: ele quer ser é adotado.


Alfredo (já gordinho) tirando a paciência de Linda. Não tentem entendê-los: eles são cachorros.